História
do Anglicanismo
Em
1810 quando Jorge III era o rei do Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda, rei
de Hanover e Duque de Brunsvique e Dom João VI, rei do Reino Unido de Portugal,
Brasil e Algarves, eles assinaram o tratado de comércio e navegação entre
Brasil e Inglaterra que no Artigo 12º do referido tratado dava garantias aos
súditos de sua majestade de praticarem sua religião de origem no Brasil.
Era
Arcebispo de Cantuária Sua Graça Charles Manners – Sutton e começava em terras
brasileiras a Fé Anglicana, sob a condição de que suas Igrejas e Capelas fossem
construídas de tal modo que externamente assemelhasse a casa de habitação, para
não serem confundidas com templos da Igreja Romana. O uso de sinos também não
era permitido para a Igreja Anglicana anunciar publicamente as celebrações,
além de não poder pregar ou declamar publicamente a fé, para não atrair fiéis
da Igreja Romana, a religião oficial do país.
As
celebrações Anglicanas aconteciam geralmente em navios ou nas casas
particulares de famílias britânicas. Somente em 1873 quando Vitória era Rainha
do Reino Unido e Irlanda e Sua Graça Archibald Campbell Tait era arcebispo da
Cantuária, era construído e consagrado como Saint Paul’s Anglican Church, o
primeiro Templo Anglicano em São Paulo, para atender a comunicada de britânica
formada pelos funcionários da Railway, empresa britânica responsável pela
construção das estradas de ferro e da Estação da Luz, dentre outras.
Em
24 de novembro de 1963 é lançada a pedra fundamental para a construção de um
novo templo, consagrado em 13 de maio de 1967, quando houve a mudança da Rua
Couto de Magalhães, no centro, para o atual endereço no Alto da Boa Vista.
A
transferência e a obra foram uma empreitada do grande batalhador britânico, o
Reverendo Towsend, Reitor desta Paróquia de 1947 a 1970. Hoje a Catedral
Anglicana de São Paulo é a cátedra da Diocese Anglicana no Brasil, que dá
continuidade a divulgação do evangelho de acordo com a tradição anglicana, mas
respeitando cada paróquia com sua forma de ser.
Juntamente
com a Igreja Anglicana de Todos os Santos, na cidade de Santos (São Paulo),
fundada em 1918 pelos britânicos residentes na cidade e pela missão dos
marinheiros, ambas as igrejas são as únicas no Estado de São Paulo fundadas
diretamente pelos ingleses e súditos de sua Majestade.
ANGLICANISMO
- O início.
O
cristianismo chegou à Inglaterra no século III. Nessa época o território estava
sob um processo de colonização romana. Os legionários, mercadores, soldados e
administradores levaram à colônia suas leis, costumes e religião. Entre eles
havia provavelmente aqueles que tinham abraçado a fé cristã e oravam
secretamente a Deus, enquanto os seus companheiros prestavam honras ao império,
ao imperador e aos deuses das religiões de mistério. Estamos aqui no terreno das
conjecturas.
A
história não deixou documentos que pudessem provar a veracidade dos fatos. Por
isso, nos lugares marcados pelo silêncio da história, encontramos lendas e
tradições que falam de viagens missionárias que teriam sido feitas àquela ilha
pelos apóstolos Paulo e Filipe e por José de Arimatéia. A primeira referência
histórica sobre a existência de cristãos na Grã-Bretanha foi registrada por
Tertuliano que, em 208, fala de regiões da ilha que haviam se convertido ao
cristianismo. Pouco se sabe sobre esses cristãos durante o segundo século. O
certo é que, em 314, três bispos ingleses participaram do Concílio de Arles, no
sul da França. Esse fato mostra que já havia uma igreja organizada na grande
ilha. No começo do século V, os romanos abandonaram a Grã-Bretanha, permitindo
a invasão dos anglo-saxões, que destruíram as igrejas e reduziram a prática da
fé cristã durante quase 150 anos. Em 597, o papa Gregório enviou uma comitiva
de 40 monges, chefiada por Agostinho, para converter os bretões. A obra missionária
iniciada por Agostinho foi consolidada por uma segunda missão romana liderada
por Teodoro de Tarso.
No
final do século X, os dinamarqueses invadiram a Grã-Bretanha e destruíram quase
tudo, deixando a impressão que Deus havia se ausentado do mundo. Em 1016, houve
uma segunda invasão normanda, mas com a diferença de que o rei era cristão e
por isso a igreja foi protegida. Doze séculos depois, a igreja inglesa julgou
necessário resistir à antiga intromissão papal, rompendo suas relações com Roma.
SINAIS
DA REFORMA
Os
primeiros sinais da reforma inglesa que vão eclodir na separação provocada por
Henrique VIII, em 1534, começaram, na verdade, com Anselmo (1034-1109), que
aceitou o convite para ser Arcebispo de Cantuária sob duas condições: que as
propriedades da igreja fossem devolvidas pelo rei e que o arcebispo fosse
reconhecido como conselheiro do rei em matéria religiosa. A luta que começou
entre a coroa e a igreja confirmou, mais tarde, que a Inglaterra fez sua
reforma religiosa debruçada sobre si mesma. Henrique VIII não fundou uma nova
igreja, mas simplesmente separou a igreja que já existia na Inglaterra da
tutela e controle romanos por razões políticas, econômicas, religiosas e até
pessoais.
Durante
quase mil anos a Igreja da Inglaterra esteve sob o domínio direto de Roma.
Henrique VIII rompeu essa antiga filiação eclesiástica com o apoio do
Parlamento. Separada e independente, a Igreja da Inglaterra continuou sua
milenar caminhada na história, alternando períodos de influência ora
romanístas, ora protestantes. Em 1559, começou o reinado de Isabel I, e com ela
veio o controvertido Ato de Uniformidade, que devolveu à rainha o mesmo poder
sobre a igreja que tinha Henrique VIII. A era elizabetana foi um período de
apogeu. Foi nessa época que começou a colonização da América, onde a igreja
anglicana se desenvolveu rapidamente e se organizou principalmente depois da
independência americana em 1776. A igreja americana teve seu primeiro bispo em
1784 e manteve a igreja livre do poder civil. Assegurada a sucessão apostólica,
a igreja americana se desenvolveu rapidamente, criando dioceses, paróquias e
inúmeras instituições.
PRINCÍPIOS
As
igrejas anglicanas defendem e proclamam a fé católica e apostólica nas
Escrituras e interpretada à luz das tradições, do estudo e da razão. Em
obediência aos ensinos de Jesus, as igrejas são comissionadas para proclamar as
boas novas do Evangelho para toda a criação. A fé, a ordem e prática estão
expressos no Livro de Oração Comum, nos ordinais dos séculos XVI e XVII e mais
resumidamente no Quadrilátero de Lambeth, aprovado pela conferência de Lambeth
de 1888. Este documento definiu como elementos essenciais de fé e ordem para a
busca da unidade cristã:
1.
Bíblia Sagrada – Acreditamos que as Sagradas Escrituras contêm toda revelação
necessária para que a humanidade alcance vida plena. Toda nossa doutrina e
liturgia sustentam-se na Bíblia Sagrada.
2.
Os Credos Apostólicos e Niceno – Escritos no tempo da igreja indivisa,
constituem a confissão normativa da fé católica que preservamos ainda hoje.
3.
Os Sacramentos – A Igreja Anglicana é uma igreja sacramental. Professamos o
Santo Batismo e a Santa Eucaristia como legítimos sacramentos diretamente
ordenados por Cristo e instrumentos da graça salvífica de Deus. Há outros sacramentos
menores, não ordenados por Jesus, mas reconhecidos pela igreja como tendo
caráter sacramental. São eles: a Confirmação, a Penitência, as Ordens
Ministeriais, o Matrimônio e a Unção dos Enfermos.
4.
Episcopado histórico – Professamos que a autoridade transmitida por Cristo aos
apóstolos e esses aos seus sucessores (incluindo nossos bispos) é, ao mesmo
tempo, garantia e expressão da catolicidade e apostolicidade da Igreja.
O
ponto central de adoração é a Santa Eucaristia, que é chamada também de Santa
Comunhão, Santa Ceia, Ceia do Senhor ou Santa Missa. No oferecimento da oração
e do louvor, são relembrados a vida, a morte e a ressureição de Cristo por meio
da proclamação da Palavra e da celebração do sacramento. A adoração está no
centro do anglicanismo.
MANEIRA
DE SER
O
ecumenismo faz parte do modo de ser dos anglicanos. Eles oram e trabalham para
que as demais igrejas busquem a unidade em amor e obediência a Deus como um só
corpo pela ação e poder do Espírito Santo. Os anglicanos acreditam que o
trabalho da igreja é pregar o evangelho da reconciliação para o universo
inteiro e não só para a parte que se considera cristã.
A
Igreja Anglicana busca equilibrar a tradição católica com as influências
benéficas da Reforma protestante. Por isso ela é essencialmente católica e
também reformada. A liturgia preserva a mais antiga estrutura de culto cristão,
com grande ênfase na proclamação da Palavra de Deus. Há um grande valor pela
Liturgia, sendo que as crenças e doutrinas são definidas no próprio manual
litúrgico (o Livro de Oração Comum).
O
LOC orienta as diferentes celebrações cúlticas não segundo uma opinião
individual, mas do consenso da Igreja como um todo. É o mais importante livro depois
da Bíblia. Sua doutrina estabelece aquilo que acredita serem os verdadeiros
valores morais e cristãos. Na sua longa história, a pastoral e a liberdade
individual não determinam automaticamente que os seus adeptos têm de fazer isso
ou aquilo, mas que para o seu próprio bem devem seguir os ensinamentos da
igreja e decidir por si mesmos. É uma igreja que não despreza o uso da razão e
da investigação científica. Sua posição liberal e democrática a coloca em
posição privilegiada para dialogar ecumenicamente com os demais ramos do
cristianismo.
Para
glorificação de Deus, além do LOC, a Igreja também dá grande valor à arte
sacra, ao altar, arquitetura dos templos e tudo que possa contribuir para
expressar nossa fé em Deus: as flores do altar, as cores litúrgicas, velas,
incenso, música e a atmosfera de reverência diante de Deus. A Igreja dedica
grande respeito aos seus Templos, a ponto de algumas pessoas interpretarem como
sinal de frieza o que para nós é expressão de reverência pelo espaço consagrado
à oração e culto a Deus.
OUTROS
RITOS DE CARÁTER SACRAMENTAL
•
Confirmação ou Crisma: Ministrada pelo(a) bispo(a), representa a maioridade na
fé e confere a todo confirmado a dignidade do ministério leigo e a plenitude
dos dons do Espírito Santo. Para ser confirmada, a pessoa precisa ser batizada,
ter aceito Jesus Cristo de forma pessoal e consciente como seu Senhor e receber
instrução catequética apropriada.
•
Matrimônio: A Igreja Anglicana celebra o matrimônio de acordo com as leis do
país e desde que um dos nubentes seja batizado. Os divorciados podem casar-se
novamente, cumpridas as determinações canônicas da Igreja.
•
Unção e benção da Saúde: Ministrada pelo sacerdote mediante a imposição das
mãos a todos que se sentem abatidos física, mental ou espiritualmente. O
sacerdote, se julgar conveniente, pode administrar a benção com óleo consagrado
pelo(a) bispo(a).
•
Penitência: Também conhecida como “Confissão e Absolvição”. Ministrada por um
sacerdote coletivamente (durante a liturgia) ou individualmente, assegura o
perdão de Deus a todas as pessoas que se arrependerem de suas más ações e
desejam reiniciar uma nova vida. “Àqueles a quem vocês perdoarem os pecados,
esses serão perdoados” (Jesus em João 20.23).
•
Ordenação: A Igreja ordena ao sagrado ministério pessoas que tenham recebido
elevada preparação teológica para corresponder à dignidade do ministério. As
ordens de diácono, presbítero e bispo são cumulativas, vitalícias e abertas a
homens e mulheres solteiros(as) ou cadados(as). Nossa Igreja não exige aos
sacerdotes o sacrifício do celibato.
SEXUALIDADE
HUMANA
A
vida moderna em qualquer parte do mundo vem sofrendo profundas transformações
nas últimas décadas, especialmente no campo da sexualidade humana. A
Conferência de Lambeth em 1998, que reúne todos os bispos anglicanos a cada dez
anos, recomendou que as igrejas anglicanas lutassem contra todas as forças e
pressões que destroem a integridade do matrimônio e da vida familiar. Os bispos
reunidos em Cantuária lembraram que as congregações locais têm uma grande
responsabilidade na preservação da compreensão cristã do matrimônio e da vida
familiar. A fidelidade no casamento entre um homem e uma mulher deve durar por
toda a vida, embora a abstinência e o celibato sejam um direito daqueles que
não se sentem chamados para o casamento.
Sabemos
hoje que existem em nossa sociedade muitas pessoas que adotam um comportamento
homossexual. Muitas delas são membros da Igreja e buscam uma orientação
pastoral e moral da Igreja e o poder transformador de Deus para as suas vidas.
Precisamos ouvir essas pessoas e lhes transmitir a certeza de que também são
amadas por Deus. Todas as pessoas batizadas, fiéis e obedientes a Deus, não
obstante suas orientações sexuais, são membros plenos do Corpo de Cristo, a
Igreja.
Mas
a conferência dos bispos anglicanos também deixou claro que a prática
homossexual é incompatível com os ensinamentos da Bíblia. Por isso, a Igreja
não pode legitimar ou abençoar uniões de sexos iguais, ou ordenar ao ministério
sagrado pessoas envolvidas em uniões do mesmo gênero sexual.
AIDS
A
AIDS não é um problema meramente médico. Ela tem também aspectos éticos e
pastorais que geralmente não são abordados pela mídia. Sabemos que a medicina
ainda não descobriu sua cura. Por isso, o melhor que podemos fazer é adotar
métodos preventivos para, pelo menos, limitar a propagação da doença. A
orientação da igreja é no sentido de desenvolver urna ética baseada nos
ensinamentos bíblicos, embora sabendo que nem todas as pessoas se comportam
segundo os padrões recomendados pela ética cristã. A Igreja Anglicana não
considera a AIDS um castigo de Deus sobre o comportamento humano, nem adota uma
atitude de condenação da fatídica enfermidade. Ao contrário, procura orientar
com programas educativos os aidéticos e seus familiares, que tanto necessitam
do apoio pastoral da igreja, para minorar esse sofrimento e enfrentar a morte
com mais dignidade. E faz isso da mesma maneira que trata as vítimas de outras
doenças terminais. Na verdade, as pessoas hoje precisam revisar seu estilo de
vida moral para buscar um comportamento mais sadio e reforçar a fidelidade no
casamento e a castidade fora dele, que são meios mais seguros de evitar a
terrível doença.
SÍMBOLOS
Um
dos símbolos mais conhecidos da igreja anglicana é a Rosa dos Ventos (Compass
Rose), espalhado por todos os lugares onde existe uma igreja anglicana,
demonstrando que o seu uso está se tornando cada vez mais universal. No centro,
vemos a cruz de São Jorge, que lembra a origem dos anglicanos.
A
inscrição em grego foi tirada de João 8.32 (a verdade vos libertará) e circunda
a cruz e a bússola, lembrando a expansão do Cristianismo anglicano pelo mundo.
A mitra que em cima do emblema nos lembra o papel do bispo e a ordem apostólica
como elementos essenciais das igrejas que integram a grande família da Comunhão
Anglicana. A Rosa dos Ventos é um símbolo largamente usado pelos anglicanos
como sinal identificador da Comunhão Anglicana.
A
cruz celta, é um símbolo do início do cristianismo nas ilhas britânicas, e hoje
, muito associada a fé anglicana. O Círculo em volta da cruz simboliza a
universalidade de Cristo, que não tem início nem fim, conforme o livro de
Apocalipse: “Eu Sou o Alpha e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o
último” (Ap 22:13)
Perguntas e Respostas sobre a Igreja Anglicana
Posso
me casar, ser batizado ou crismado nesta Igreja?
Pode!
Basta desejar, nós te aceitamos e te recebemos no amor incondicional de Jesus
Cristo.
Como
a Igreja Anglicana vê os Santos?
Primeiramente
não nos esquecemos que a sagrada Escritura é clara ao afirmar: “Jesus é o
caminho a verdade e a vida e ninguém vai a Deus senão for por Ele”. Mas nós
cremos também que no corpo místico de Jesus Cristo, Deus vinculou todos os seus
escolhidos em uma só comunhão e irmandade. Portanto, é saudável buscar imitar,
em vida e virtude, os Bem-Aventurados Santos. Nós oramos no Credo que
acreditamos na comunhão dos Santos, declaramos então que estamos unidos com
todo o povo de Cristo, vivos ou ressurretos lá onde há muitas moradas, segundo
Jesus.
Como
os Anglicanos vêem Maria?
Eis
as palavras do anjo Gabriel e de Isabel, ditas a Maria no Evangelho de Lucas;
“Ave
Maria, cheia de Graça, o Senhor é convosco; Bendita sois Vós entre as mulheres, e bendito o fruto de vosso
ventre, Jesus”.
Maria
é tida como a favorita entre os Santos, pois quem pode estar mais próximo de
Cristo do que aquela que lhe deu a carne, que o carregou, o amamentou, o lavou,
o alimentou, o vestiu, o ensinou e que finalmente o segurou morto em seus
braços? O próprio Evangelho deixa claro que devemos honrá-la. Quando Isabel
diz: ” Tu és a mais Bendita entre todas as mulheres. Por que me está sendo dada
a honra de que venha a mim a mãe do meu Senhor?” (Lc I:42-43).
E
quando Jesus na cruz entregou Maria para ser a mãe do apóstolo amado, a Igreja
sempre entendeu que isso significava que Ele a estava entregando para ser a mãe
de todos seus amados discípulos, mãe dos cristãos e mãe da Igreja. Maria não é
algum tipo de deusa, e sim, ao contrário, ela foi considerada a mais humilde
entre os humildes, mas que obedeceu à vontade de Deus, carregou Seu Filho neste
mundo, participou de Seu sofrimento mais do que ninguém e, por isso, agora
participa em sua glória. Eis porque o anjo Gabriel previu que todas as gerações
a chamariam de Bem-Aventurada, e assim sempre o será.