quarta-feira, 15 de março de 2023

A história do anglicanismo



A história do anglicanismo


Como nos lembra a Professora Vera Lúcia Simões de Oliveira, boa parte da história do Anglicanismo coincide com a História da Igreja da Inglaterra que é decorrente do somatório de experiências religiosas de vários matizes, “com características bem específicas e, também, com a acomodação cultural de diferentes tradições cristãs”. Porém, ao longo de sua evolução histórica, o Anglicanismo tornou-se, não mais um sinônimo de “Igreja ou religião dos ingleses”, pois diversos aspectos nesse processo evolutivo vem sendo agregados, mas sim, uma igreja universal. Em que pese o Anglicanismo, ao longo de sua história, apresentar-se na forma de “comunhão” ou de “irmandade“, reunindo igrejas ou províncias autônomas que mantém uma identidade doutrinária comum, conseguiu se adaptar a diversas variantes culturais.

As raízes da Igreja Anglicana estão na primitiva Igreja Celta, igreja cristã que chegou à Inglaterra por volta do final do segundo século cristão e início do terceiro, desenvolvendo-se de maneira local e independente. 

Sabe-se de que já em 314, no concílio em Arles, na Gália (atual França), 3 bispos da Igreja Celta Britânica lá estiveram presentes. No concílio de Nicéia, em 325, apesar de não ter contado com a presença física de bispos ingleses, houve, conforme atesta Atanásio, a sua posterior adesão à fé nicena. Em 359, em Rimini, novamente estiveram presentes alguns bispos britânicos, destacando-se, inclusive, por seu ascetismo e sua postura absolutamente desapegada às coisas materiais. Tais fatos mostram que no século IV já havia certa organização na Igreja Celta Britânica, já apresentando um perfil bem característico.

Diversos estudiosos têm evidenciado o violento processo de cristianização na religião que hoje é o Reino Unido, contrapondo-se às primitivas práticas dos celtas, não deixando espaço para a vivência das antigas tradições pagãs. Porém, de uma forma geral, a intolerância era uma marca daqueles tempos, e o cristianismo, com seu processo de conversão, não fugia dessa característica cultural.

O Cristianismo Celta Irlandês tornou-se uma força permanente nas Ilhas Britânicas, com enorme ação missionária, partindo da fundação de mosteiros, irradiadores da fé cristã, diferentemente do tradicional sistema diocesano europeu.


No final do século V, a Irlanda já desempenhava um importante papel na história do Cristianismo nas Ilhas Britânicas, com algumas características bem especiais, baseando-se em seus mosteiros, com diferente estrutura administrativa ao serem comparados com os demais da Europa Continental, especialmente nas peculiares relações entre o abade e o bispo. Na Irlanda, diferentemente do sistema europeu e romano, o abade governava soberanamente o seu mosteiro e a região em que estava inserido, conforme o modelo céltico, e até possuía, entre os membros do corpo dos monges, alguns bispos, que estavam, administrativamente, sob as suas ordens. Assim, a organização, as finanças e as terras da Igreja eram governadas pelos abades e não pelos bispos, os quais não possuíam qualquer jurisdição territorial (diocese). Dessa forma, os mosteiros destacaram-se como o elemento mais importante na vida da primitiva Igreja Irlandesa.

Em que pese o destaque de alguns mosteiros da região como centros de saber, de evangelização e de produção literária, merece destaque a realidade apresentada pela já citada Professora Oliveira:

É marcante na vida religiosa celta-cristã a valorização da natureza, tanto na liturgia, como na vivência diária da penitência, do trabalho e do culto, como resultado da sua experiência cultural. Os templos, seja no mosteiro ou, até, em regiões isoladas, geralmente eram pequenos, não porque, necessariamente as congregações também o fossem, mas, porque a adoração também era feita, muitas vezes, ao ar livre. Muitos locais de adoração eram ao ar livre, sem nenhuma construção, a não ser a presença das famosas cruzes de pedra, emolduradas, em suas hastes, pela figura do círculo, que simbolizava a amplitude da obra da criação de Deus. A cruz e o círculo são testemunhas vivas, até hoje, dessa ardente espiritualidade, porque muitas delas sobreviveram à ação do tempo e, ainda em nossos dias, algumas são santuários de oração e peregrinação. Enfim, a prática religiosa celta não ficava confinada dentro das paredes dos muitos mosteiros (como era comum na Igreja romanizada), mas, a partir deles, a experiência era a de ir para fora, para o mundo, para pregar o Evangelho.


Pelo exposto, merece destaque as características básicas da Igreja Celta com sua pobreza de recursos (simples e rudes construções), seu ascetismo na sua forma de compreender a vida cristã, sua prática orante contemplativa, essencialmente mística, seu fervor ao estudo das Escrituras, muito por influência da Igreja Oriental e, ainda, pela sua destacada valorização da natureza. O círculo e a cruz acompanhavam a vida da Igreja Celta, sinal até hoje identificado.

No século VI, a Irlanda continuava a viver um florescente cristianismo celta. No entanto, o isolamento das Ilhas Britânicas do resto do Continente Europeu e a dominação anglo-saxônica, no leste das mesmas, muito contribuiu para que a Igreja Celta Irlandesa e Escocesa desenvolvesse alguns procedimentos diferentes dos da Igreja Cristã Ocidental, liderada por Roma. Apesar disso, pode-se afirmar que a Igreja Celta nunca foi, em essência doutrinal, diferente da Igreja de Roma, ou seja, essencialmente uma igreja cristã.

Ao final do século VI, Agostinho, um monge italiano, prior de um mosteiro em Roma, foi escolhido pelo papa de então, Gregório, para desenvolver a segunda cristianização da futura Inglaterra, ainda, no momento, dividida em seus 7 reinos pagãos. Conta-se que, em menos de um ano de sua chegada, Agostinho teria batizado mais de 10.000 convertidos em Cantuária. À época, estabeleceu, nas cercanias dessa região, a sua catedral e fundou uma “família” episcopal – uma espécie de escola pública para meninos, e seminário teológico – com a fundação posterior, na mesma localidade, um mosteiro beneditino.


Porém, uma das críticas que se faz a Gregório, no que se refere à sua orientação pastoral para a Inglaterra, foi a concessão a Agostinho de autoridade sobre os bispos britânicos, os quais mantiveram acesa a chama da fé em uma região restrita (oeste), enquanto o resto do país tinha voltado ao paganismo. Como consequência, os bispos britânicos ressentiram-se de tal desrespeito, o que foi agravado pelo pouco tato de Agostinho para lidar com seus “liderados”. Dessa forma, os bispos britânicos se recusaram a cooperar com a Missão Romana, cuja prioridade era de evangelizar os odiados invasores e, depois, submeter toda a Igreja Cristã, lá existente, a Roma.

O processo de evangelização do norte da Inglaterra acabou gerando um destacado problema decorrente das diferenças entre as tradições celta e romana, além da não aceitação do jugo papal pelos seguidores da tradição celta.  Por meados do século VII, a relação entre os cristãos da Inglaterra tornou-se calamitosa. De um lado, no norte e centro, a tradição celta, e de outro, a missão romana, forte no sul, e também querendo atuar com eficiência em outras áreas, em nome do Bispo de Roma.

Gradativamente enfraquecidos, os celtas acabaram se confinando na Irlanda, onde a Igreja Celta continuou a existir de forma independente, até que, também a Escócia e a Irlanda submeteram-se à tutela romana, nos séculos subsequentes. No entanto, a perda da independência da Igreja Britânica Celta, neste período chamada de Igreja Saxônica, não significou a perda total das marcas celtas nela impressas: o fervor religioso, a vocação mística, o ascetismo, o ardor missionário, principalmente onde a Igreja Celta tinha sido mais forte: no norte da Inglaterra.

Em que pese a missão romana de remover as características peculiares do cristianismo céltico, curiosamente, a independência, uma das marcas celtas importantes, manteve-se sempre presente na Igreja Inglesa, com sua dificuldade de se submeter às ordens vindas de Roma.


Dessa forma, durante toda a Idade Média, a Igreja Inglesa manteve-se submetida à Igreja Romana e, como os demais países da Europa, a Inglaterra fazia parte do sistema papal vigente, apesar de suas marcantes características estatais e nacionalistas. A independência histórica sempre foi um fator de queixa da Igreja na Inglaterra, e apesar de ter sido nominada romana por 850 anos, sempre manteve a sua relação com o papado de forma bastante conflituosa.

No início da Idade Moderna, Lutero, um monge agostiniano alemão, fixou as suas 95 teses contra as indulgências que a Igreja cobrava, no momento, para os que desejassem a salvação da sua alma ou de seus queridos. Lutero concluiu, por seus estudos bíblicos, que a salvação era um presente de Deus aos que tinham fé e não algo a ser comprado. Associado a isso, outros aspectos foram por ele apontados, tais como a não necessidade da palavra de Deus ter intermediários, providenciando, então, a tradução da Bíblia para a linguagem vernácula, permitindo a expansão de sua leitura (Lutero traduziu o Novo Testamento para o alemão coloquial em 1522 e a Bíblia inteira em 1534); a não sujeição do cristão a qualquer autoridade eclesiástica, tendo em vista sua direta e intima relação com Deus; a contraposição às arrecadações desmedidas de fundos dedicadas, aparentemente, à construção de igrejas e basílicas extravagantes, sendo boa parte do dinheiro destinado ao custeio dos gastos episcopais. 

Em que pese o desejo inicial de Lutero e seus seguidores de desencadear uma reforma dentro da Igreja, razão pelo nome de “reformadores”, tal intento avançou de forma muito mais intensa, levando a protestos veementes contra atitudes autoritárias da Igreja em contraposição às suas propostas, passando, então, a serem chamados de “protestantes”, com sua rejeição à autoridade eclesiástica. Assim, a Cristandade Ocidental acaba se rompendo em sua unidade monolítica – avançava a Reforma Protestante, que deixou marcas importantes em toda a Cristandade Ocidental, mesmo dentro da Igreja de Roma e, como em outros países, deixou reflexos marcantes na vida da Igreja da Inglaterra.

Muitos já ouviram, com detalhes diversos, de forma mais ou menos floreada, a história de Henrique VIII que, no desejo de um novo casamento, não autorizado pela Igreja Romana, muito por conta de seus interesses geopolíticos, promove a ruptura com Roma, tão somente separando a igreja autônoma que lá já existia da tutela de Roma.

Paralelamente ao agravamento dos problemas matrimoniais de Henrique VIII, principalmente pela falta de um herdeiro masculino, as novas ideias do movimento reformista vinham da Alemanha e, mais tarde, da Suíça, as quais, tanto no plano político como no teológico, logo começaram a ser difundidas na Inglaterra. Lá elas foram alegremente recebidas pelos remanescentes da velha tradição Lolarda que eram discípulos de John Wycliff, cujas ideias, ainda no século XIV, eram bastante próximas daquelas assumidas e difundidas pela Reforma Protestante (Em 1382, Wycliff traduzira a Bíblia para o inglês, apesar de que sua versão ainda não se encontrava amplamente disponível).

No início de 1520, ensinamentos luteranos começaram a ser discutidos na Universidade de Cambridge, por um grupo de professores entusiastas, dentre os quais estaria um grupo de futuros bispos e arcebispos ingleses, incluindo Thomas Cranmer, Matthew Parker, Hugh Latimer e Nicholas Ridley.

Entre 1532 e 1534, o Parlamento inglês foi acionado por Henrique, sendo aprovadas uma série de leis, que cortavam, cada vez mais, as amarras da Inglaterra com o papado. A rompimento definitivo entre Henrique VIII e o papado deu-se, em 1534, quando o Parlamento inglês aprovou o Ato de Supremacia que colocou a Igreja sob a autoridade real. Nascia, então, a Igreja Anglicana.

Cabe um importante destaque neste ponto.

Muitos apontam Henrique VIII como o fundador da Igreja Anglicana, afirmativa encontrada, inclusive em livros históricos tendenciosos. Tal resposta, obviamente não corresponde à verdade, pelo simples fato de que tal rei, em que pese seu poder à época, não poderia fundar algo que já existia. É inquestionável que o verdadeiro fundador da Igreja Anglicana foi Jesus Cristo, pois nele todas as igrejas históricas tiveram sua origem, com subsequente disseminação pelo mundo afora e adquirindo, no curso da história, feições e características próprias. Dessa forma, a Igreja Anglicana atravessou os séculos sem perder as suas verdadeiras e principais características que remontam aos tempos dos apóstolos.

Três partidos ou tendências na Igreja da Inglaterra foram produzidas a partir da reforma inglesa do século XVI: Broad Church Party (igreja ampla), High Church Party (igreja alta) e Low Church Party (igreja baixa).

No século XIX, a igreja alta foi revigorada pelo Movimento de Oxford, levando a restauração, pelos anglo-católicos, de elementos teológicos e litúrgicos da Igreja Britânica Pré-Reforma. Assim, o uso das imagens no culto público era uma prática rotineira, bem como o uso das velas, do crucifixo, do incenso e da água benta. Praticavam, também, a invocação dos santos e a confissão auricular. Foram vitais no renascimento das ordens monásticas anglicanas.

Já a simplicidade do cerimonial litúrgico e espírito evangélico de evangelização vem sendo uma característica marcante da igreja baixa. Teologicamente, professam o protestantismo clássico, reconhecendo certos elementos católicos como os sacramentos e o episcopado histórico. Os anglo-evangélicos foram os grandes responsáveis pelo reavivamento evangélico na Inglaterra e em outros países, com forte preocupação missionária.

Por sua vez, a igreja ampla, inicialmente, era formada de um grupo minoritário, mas muito influente tendo em vista às suas posições moderadas. Sempre caracterizaram-se como o fiel da balança entre o ritualismo anglo-católico e o despojamento evangélico. Pode-se dizer que, nos dias atuais, boa parte das paróquias anglicanas enquadra-se nesse grupo.

O chamado tripé Escritura-Tradição-Razão é o cerne do modo de se fazer teologia anglicana. Simboliza que esses três elementos devem estar em equilíbrio constante, a fim de perceber o que o Espírito Santo está a dizer para a Igreja.



Fonte: https://www.mongesanglicanos.org/a-historia-do-anglicanismo






















História do Anglicanismo

 

História do Anglicanismo 

Em 1810 quando Jorge III era o rei do Reino Unido da Grã Bretanha e Irlanda, rei de Hanover e Duque de Brunsvique e Dom João VI, rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, eles assinaram o tratado de comércio e navegação entre Brasil e Inglaterra que no Artigo 12º do referido tratado dava garantias aos súditos de sua majestade de praticarem sua religião de origem no Brasil.

Era Arcebispo de Cantuária Sua Graça Charles Manners – Sutton e começava em terras brasileiras a Fé Anglicana, sob a condição de que suas Igrejas e Capelas fossem construídas de tal modo que externamente assemelhasse a casa de habitação, para não serem confundidas com templos da Igreja Romana. O uso de sinos também não era permitido para a Igreja Anglicana anunciar publicamente as celebrações, além de não poder pregar ou declamar publicamente a fé, para não atrair fiéis da Igreja Romana, a religião oficial do país.


As celebrações Anglicanas aconteciam geralmente em navios ou nas casas particulares de famílias britânicas. Somente em 1873 quando Vitória era Rainha do Reino Unido e Irlanda e Sua Graça Archibald Campbell Tait era arcebispo da Cantuária, era construído e consagrado como Saint Paul’s Anglican Church, o primeiro Templo Anglicano em São Paulo, para atender a comunicada de britânica formada pelos funcionários da Railway, empresa britânica responsável pela construção das estradas de ferro e da Estação da Luz, dentre outras.

Em 24 de novembro de 1963 é lançada a pedra fundamental para a construção de um novo templo, consagrado em 13 de maio de 1967, quando houve a mudança da Rua Couto de Magalhães, no centro, para o atual endereço no Alto da Boa Vista.

A transferência e a obra foram uma empreitada do grande batalhador britânico, o Reverendo Towsend, Reitor desta Paróquia de 1947 a 1970. Hoje a Catedral Anglicana de São Paulo é a cátedra da Diocese Anglicana no Brasil, que dá continuidade a divulgação do evangelho de acordo com a tradição anglicana, mas respeitando cada paróquia com sua forma de ser.

Juntamente com a Igreja Anglicana de Todos os Santos, na cidade de Santos (São Paulo), fundada em 1918 pelos britânicos residentes na cidade e pela missão dos marinheiros, ambas as igrejas são as únicas no Estado de São Paulo fundadas diretamente pelos ingleses e súditos de sua Majestade.


ANGLICANISMO - O início.

O cristianismo chegou à Inglaterra no século III. Nessa época o território estava sob um processo de colonização romana. Os legionários, mercadores, soldados e administradores levaram à colônia suas leis, costumes e religião. Entre eles havia provavelmente aqueles que tinham abraçado a fé cristã e oravam secretamente a Deus, enquanto os seus companheiros prestavam honras ao império, ao imperador e aos deuses das religiões de mistério. Estamos aqui no terreno das conjecturas.

 

A história não deixou documentos que pudessem provar a veracidade dos fatos. Por isso, nos lugares marcados pelo silêncio da história, encontramos lendas e tradições que falam de viagens missionárias que teriam sido feitas àquela ilha pelos apóstolos Paulo e Filipe e por José de Arimatéia. A primeira referência histórica sobre a existência de cristãos na Grã-Bretanha foi registrada por Tertuliano que, em 208, fala de regiões da ilha que haviam se convertido ao cristianismo. Pouco se sabe sobre esses cristãos durante o segundo século. O certo é que, em 314, três bispos ingleses participaram do Concílio de Arles, no sul da França. Esse fato mostra que já havia uma igreja organizada na grande ilha. No começo do século V, os romanos abandonaram a Grã-Bretanha, permitindo a invasão dos anglo-saxões, que destruíram as igrejas e reduziram a prática da fé cristã durante quase 150 anos. Em 597, o papa Gregório enviou uma comitiva de 40 monges, chefiada por Agostinho, para converter os bretões. A obra missionária iniciada por Agostinho foi consolidada por uma segunda missão romana liderada por Teodoro de Tarso.

 

No final do século X, os dinamarqueses invadiram a Grã-Bretanha e destruíram quase tudo, deixando a impressão que Deus havia se ausentado do mundo. Em 1016, houve uma segunda invasão normanda, mas com a diferença de que o rei era cristão e por isso a igreja foi protegida. Doze séculos depois, a igreja inglesa julgou necessário resistir à antiga intromissão papal, rompendo suas relações com Roma.

 

SINAIS DA REFORMA

Os primeiros sinais da reforma inglesa que vão eclodir na separação provocada por Henrique VIII, em 1534, começaram, na verdade, com Anselmo (1034-1109), que aceitou o convite para ser Arcebispo de Cantuária sob duas condições: que as propriedades da igreja fossem devolvidas pelo rei e que o arcebispo fosse reconhecido como conselheiro do rei em matéria religiosa. A luta que começou entre a coroa e a igreja confirmou, mais tarde, que a Inglaterra fez sua reforma religiosa debruçada sobre si mesma. Henrique VIII não fundou um nova igreja, mas simplesmente separou a igreja que já existia na Inglaterra da tutela e controle romanos por razões políticas, econômicas, religiosas e até pessoais.

 

Durante quase mil anos a Igreja da Inglaterra esteve sob o domínio direto de Roma. Henrique VIII rompeu essa antiga filiação eclesiástica com o apoio do Parlamento. Separada e independente, a Igreja da Inglaterra continuou sua milenar caminhada na história, alternando períodos de influência ora romanístas, ora protestantes. Em 1559, começou o reinado de Isabel I, e com ela veio o controvertido Ato de Uniformidade, que devolveu à rainha o mesmo poder sobre a igreja que tinha Henrique VIII. A era elizabetana foi um período de apogeu. Foi nessa época que começou a colonização da América, onde a igreja anglicana se desenvolveu rapidamente e se organizou principalmente depois da independência americana em 1776. A igreja americana teve seu primeiro bispo em 1784 e manteve a igreja livre do poder civil. Assegurada a sucessão apostólica, a igreja americana se desenvolveu rapidamente, criando dioceses, paróquias e inúmeras instituições.


PRINCÍPIOS

As igrejas anglicanas defendem e proclamam a fé católica e apostólica nas Escrituras e interpretada à luz das tradições, do estudo e da razão. Em obediência aos ensinos de Jesus, as igrejas são comissionadas para proclamar as boas novas do Evangelho para toda a criação. A fé, a ordem e prática estão expressos no Livro de Oração Comum, nos ordinais dos séculos XVI e XVII e mais resumidamente no Quadrilátero de Lambeth, aprovado pela conferência de Lambeth de 1888. Este documento definiu como elementos essenciais de fé e ordem para a busca da unidade cristã:

1. Bíblia Sagrada – Acreditamos que as Sagradas Escrituras contêm toda revelação necessária para que a humanidade alcance vida plena. Toda nossa doutrina e liturgia sustentam-se na Bíblia Sagrada.

2. Os Credos Apostólicos e Niceno – Escritos no tempo da igreja indivisa, constituem a confissão normativa da fé católica que preservamos ainda hoje.

3. Os Sacramentos – A Igreja Anglicana é uma igreja sacramental. Professamos o Santo Batismo e a Santa Eucaristia como legítimos sacramentos diretamente ordenados por Cristo e instrumentos da graça salvífica de Deus. Há outros sacramentos menores, não ordenados por Jesus, mas reconhecidos pela igreja como tendo caráter sacramental. São eles: a Confirmação, a Penitência, as Ordens Ministeriais, o Matrimônio e a Unção dos Enfermos.

4. Episcopado histórico – Professamos que a autoridade transmitida por Cristo aos apóstolos e esses aos seus sucessores (incluindo nossos bispos) é, ao mesmo tempo, garantia e expressão da catolicidade e apostolicidade da Igreja.

O ponto central de adoração é a Santa Eucaristia, que é chamada também de Santa Comunhão, Santa Ceia, Ceia do Senhor ou Santa Missa. No oferecimento da oração e do louvor, são relembrados a vida, a morte e a ressureição de Cristo por meio da proclamação da Palavra e da celebração do sacramento. A adoração está no centro do anglicanismo.

 

MANEIRA DE SER

O ecumenismo faz parte do modo de ser dos anglicanos. Eles oram e trabalham para que as demais igrejas busquem a unidade em amor e obediência a Deus como um só corpo pela ação e poder do Espírito Santo. Os anglicanos acreditam que o trabalho da igreja é pregar o evangelho da reconciliação para o universo inteiro e não só para a parte que se considera cristã.

A Igreja Anglicana busca equilibrar a tradição católica com as influências benéficas da Reforma protestante. Por isso ela é essencialmente católica e também reformada. A liturgia preserva a mais antiga estrutura de culto cristão, com grande ênfase na proclamação da Palavra de Deus. Há um grande valor pela Liturgia, sendo que as crenças e doutrinas são definidas no próprio manual litúrgico (o Livro de Oração Comum).

O LOC orienta as diferentes celebrações cúlticas não segundo uma opinião individual, mas do consenso da Igreja como um todo. É o mais importante livro depois da Bíblia. Sua doutrina estabelece aquilo que acredita serem os verdadeiros valores morais e cristãos. Na sua longa história, a pastoral e a liberdade individual não determinam automaticamente que os seus adeptos têm de fazer isso ou aquilo, mas que para o seu próprio bem devem seguir os ensinamentos da igreja e decidir por si mesmos. É uma igreja que não despreza o uso da razão e da investigação científica. Sua posição liberal e democrática a coloca em posição privilegiada para dialogar ecumenicamente com os demais ramos do cristianismo.

Para glorificação de Deus, além do LOC, a Igreja também dá grande valor à arte sacra, ao altar, arquitetura dos templos e tudo que possa contribuir para expressar nossa fé em Deus: as flores do altar, as cores litúrgicas, velas, incenso, música e a atmosfera de reverência diante de Deus. A Igreja dedica grande respeito aos seus Templos, a ponto de algumas pessoas interpretarem como sinal de frieza o que para nós é expressão de reverência pelo espaço consagrado à oração e culto a Deus.

 

OUTROS RITOS DE CARÁTER SACRAMENTAL

• Confirmação ou Crisma: Ministrada pelo(a) bispo(a), representa a maioridade na fé e confere a todo confirmado a dignidade do ministério leigo e a plenitude dos dons do Espírito Santo. Para ser confirmada, a pessoa precisa ser batizada, ter aceito Jesus Cristo de forma pessoal e consciente como seu Senhor e receber instrução catequética apropriada.

• Matrimônio: A Igreja Anglicana celebra o matrimônio de acordo com as leis do país e desde que um dos nubentes seja batizado. Os divorciados podem casar-se novamente, cumpridas as determinações canônicas da Igreja.

• Unção e benção da Saúde: Ministrada pelo sacerdote mediante a imposição das mãos a todos que se sentem abatidos física, mental ou espiritualmente. O sacerdote, se julgar conveniente, pode administrar a benção com óleo consagrado pelo(a) bispo(a).

• Penitência: Também conhecida como “Confissão e Absolvição”. Ministrada por um sacerdote coletivamente (durante a liturgia) ou individualmente, assegura o perdão de Deus a todas as pessoas que se arrependerem de suas más ações e desejam reiniciar uma nova vida. “Àqueles a quem vocês perdoarem os pecados, esses serão perdoados” (Jesus em João 20.23).

• Ordenação: A Igreja ordena ao sagrado ministério pessoas que tenham recebido elevada preparação teológica para corresponder à dignidade do ministério. As ordens de diácono, presbítero e bispo são cumulativas, vitalícias e abertas a homens e mulheres solteiros(as) ou cadados(as). Nossa Igreja não exige aos sacerdotes o sacrifício do celibato.

 

SEXUALIDADE HUMANA

A vida moderna em qualquer parte do mundo vem sofrendo profundas transformações nas últimas décadas, especialmente no campo da sexualidade humana. A Conferência de Lambeth em 1998, que reúne todos os bispos anglicanos a cada dez anos, recomendou que as igrejas anglicanas lutassem contra todas as forças e pressões que destroem a integridade do matrimônio e da vida familiar. Os bispos reunidos em Cantuária lembraram que as congregações locais têm uma grande responsabilidade na preservação da compreensão cristã do matrimônio e da vida familiar. A fidelidade no casamento entre um homem e uma mulher deve durar por toda a vida, embora a abstinência e o celibato sejam um direito daqueles que não se sentem chamados para o casamento.

 

Sabemos hoje que existem em nossa sociedade muitas pessoas que adotam um comportamento homossexual. Muitas delas são membros da Igreja e buscam uma orientação pastoral e moral da Igreja e o poder transformador de Deus para as suas vidas. Precisamos ouvir essas pessoas e lhes transmitir a certeza de que também são amadas por Deus. Todas as pessoas batizadas, fiéis e obedientes a Deus, não obstante suas orientações sexuais, são membros plenos do Corpo de Cristo, a Igreja.

Mas a conferência dos bispos anglicanos também deixou claro que a prática homossexual é incompatível com os ensinamentos da Bíblia. Por isso, a Igreja não pode legitimar ou abençoar uniões de sexos iguais, ou ordenar ao ministério sagrado pessoas envolvidas em uniões do mesmo gênero sexual.

 

AIDS

AIDS não é um problema meramente médico. Ela tem também aspectos éticos e pastorais que geralmente não são abordados pela mídia. Sabemos que a medicina ainda não descobriu sua cura. Por isso, o melhor que podemos fazer é adotar métodos preventivos para, pelo menos, limitar a propagação da doença. A orientação da igreja é no sentido de desenvolver urna ética baseada nos ensinamentos bíblicos, embora sabendo que nem todas as pessoas se comportam segundo os padrões recomendados pela ética cristã. A Igreja Anglicana não considera a AIDS um castigo de Deus sobre o comportamento humano, nem adota uma atitude de condenação da fatídica enfermidade. Ao contrário, procura orientar com programas educativos os aidéticos e seus familiares, que tanto necessitam do apoio pastoral da igreja, para minorar esse sofrimento e enfrentar a morte com mais dignidade. E faz isso da mesma maneira que trata as vítimas de outras doenças terminais. Na verdade, as pessoas hoje precisam revisar seu estilo de vida moral para buscar um comportamento mais sadio e reforçar a fidelidade no casamento e a castidade fora dele, que são meios mais seguros de evitar a terrível doença.

 

SÍMBOLOS

Um dos símbolos mais conhecidos da igreja anglicana é a Rosa dos Ventos (Compass Rose), espalhado por todos os lugares onde existe uma igreja anglicana, demonstrando que o seu uso está se tornando cada vez mais universal. No centro, vemos a cruz de São Jorge, que lembra a origem dos anglicanos.

A inscrição em grego foi tirada de João 8.32 (a verdade vos libertará) e circunda a cruz e a bússola, lembrando a expansão do Cristianismo anglicano pelo mundo. A mitra que em cima do emblema nos lembra o papel do bispo e a ordem apostólica como elementos essenciais das igrejas que integram a grande família da Comunhão Anglicana. A Rosa dos Ventos é um símbolo largamente usado pelos anglicanos como sinal identificador da Comunhão Anglicana.

A cruz celta, é um símbolo do início do cristianismo nas ilhas britânicas, e hoje , muito associada a fé anglicana. O Círculo em volta da cruz simboliza a universalidade de Cristo, que não tem início nem fim, conforme o livro de Apocalipse: “Eu Sou o Alpha e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o último” (Ap 22:13)

 Perguntas e Respostas sobre a Igreja Anglicana 

 

Posso me casar, ser batizado ou crismado nesta Igreja?

Pode! Basta desejar, nós te aceitamos e te recebemos no amor incondicional de Jesus Cristo.

Como a Igreja Anglicana vê os Santos?

Primeiramente não nos esquecemos que a sagrada Escritura é clara ao afirmar: “Jesus é o caminho a verdade e a vida e ninguém vai a Deus senão for por Ele”. Mas nós cremos também que no corpo místico de Jesus Cristo, Deus vinculou todos os seus escolhidos em uma só comunhão e irmandade. Portanto, é saudável buscar imitar, em vida e virtude, os Bem-Aventurados Santos. Nós oramos no Credo que acreditamos na comunhão dos Santos, declaramos então que estamos unidos com todo o povo de Cristo, vivos ou ressurretos lá onde há muitas moradas, segundo Jesus.

 

Como os Anglicanos vêem Maria?

      

Eis as palavras do anjo Gabriel e de Isabel, ditas a Maria no Evangelho de Lucas;

“Ave Maria, cheia de Graça, o Senhor é convosco; Bendita sois Vós entre  as mulheres, e bendito o fruto de vosso ventre, Jesus”.

 

Maria é tida como a favorita entre os Santos, pois quem pode estar mais próximo de Cristo do que aquela que lhe deu a carne, que o carregou, o amamentou, o lavou, o alimentou, o vestiu, o ensinou e que finalmente o segurou morto em seus braços? O próprio Evangelho deixa claro que devemos honrá-la. Quando Isabel diz: ” Tu és a mais Bendita entre todas as mulheres. Por que me está sendo dada a honra de que venha a mim a mãe do meu Senhor?” (Lc I:42-43).

 

E quando Jesus na cruz entregou Maria para ser a mãe do apóstolo amado, a Igreja sempre entendeu que isso significava que Ele a estava entregando para ser a mãe de todos seus amados discípulos, mãe dos cristãos e mãe da Igreja. Maria não é algum tipo de deusa, e sim, ao contrario, ela foi considerada a mais humilde entre os humildes, mas que obedeceu à vontade de Deus, carregou Seu Filho neste mundo, participou de Seu sofrimento mais do que ninguém e, por isso, agora participa em sua glória. Eis porque o anjo Gabriel previu que todas as gerações a chamariam de Bem-Aventurada, e assim sempre o será.


fonte: https://www.catedral-anglicana.org.br/histria-do-anglicanismo